Análise da 2.ª Entrevista
Ao décimo sétimo dia do mês de Maio de dois mil e treze, realizou-se à professora de Educação Especial da Unidade Estruturada de Autismo, inserida na EB1e JI Conquinha, a entrevista que se segue. Esta entrevista decorreu na Unidade, teve início por volta das dez e trinta horas da manhã e durou aproximadamente quarenta e cinco minutos. Apesar da entrevistada autorizar a exposição do seu nome, de forma a tornar leitura mais simples, no decorre da exibição dos seguintes resultados, a entrevistada será apresentada segundo tal designação.
Num primeiro momento foram feitos os prévios agradecimentos pela disponibilidade e colaboração, a garantia da confidencialidade, (não sendo necessário garantir o anonimato visto a mesma autorizar a exposição do seu nome), o pedido de autorização para a gravação áudio, de modo a facilitar a recolha e organização de dados, para posterior análise e a referência à disciplina, na qual o trabalho se insere.
O Objetivo Geral desta entrevista foi perceber o impacto do decorrer do projeto “ Ajuda-me a Crescer”. Tendo como objetivos específicos compreender a utilidade do tema “ O euro” tendo em conta o valor do dinheiro; compreender a pertinência do projeto desenvolvido; descrever o impacto das três fases do projeto realizadas (simulações, fichas e ida ao supermercado); compreender o envolvimento dos alunos no projeto; compreender a utilidade do material realizado pelo grupo (Inês e Joana); compreender como é que o projeto influenciou ou ajudou no desenvolvimento das crianças; compreender se a Palestra realizada à comunidade escolar promoveu alguma mudança ou sensibilização perante as crianças da UEA; compreender se o projeto no geral foi útil e se será exequível a níveis futuros.
Postos estes aspetos, a entrevista, propriamente dita principiou-se com a pertinência da temática “ O euro”, o valor do dinheiro. Neste sentido a entrevistada advoga que ter conhecimentos a nível do valor do dinheiro “é algo fundamental no nosso dia-a-dia.” principalmente quando se trata de crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE). Isto porque, segundo a entrevistada o objetivo principal para com estas crianças é que estas “consigam ser o mais autónomas possível. Consigam sair da zona de conforto. Consigam ter uma vida dita normal”. Neste contexto a entrevistada salienta a forma como o grupo envolveu as crianças no projeto.
De seguida a pergunta incidiu sobre a pertinência do projeto aplicado tendo em conta as características das crianças da UEA. Neste seguimento, a entrevistada refere que o projeto sempre foi acompanhado por esta e pela outra professora da UEA, sendo que, sempre se foi adequando as situações a cada criança. A entrevistada refere ainda que, deste modo, como o grupo sempre se preocupou com as características individuais de cada criança, automaticamente teve um “trabalho mais intensivo”. Isto porque, foi “preciso conhecer bem as capacidades e limitações de cada criança para desenvolver o projeto da forma brilhante como o desenvolveram”. A entrevistada evidencia também que “apesar do culminar deste projeto ser supostamente na ida ao supermercado”, para esta o mais importante “foi todo o trabalho de pesquisa e de realização de material que vocês tiveram. E não foi pouco (risos).” Referindo ainda que o grupo se desenvolveu bastante a nível profissional com a execução deste projeto.
A pergunta que se seguiu foi relativa às três fases do projeto: as simulações, a consolidação de informação recebida com a realização de fichas e por fim a ida ao supermercado. Neste ponto o interesse recaiu sobre qual a fase mais útil no desenvolvimento de aprendizagens por parte das crianças. Sendo que, a entrevistada considerou que “as três fases foram cruciais para o desenvolvimento de aprendizagens a vários níveis”, referindo ainda que as três fases são evolutivas e “permitem passo a passo o desenvolvimento da criança de forma calma e persistente tendo em conta as suas limitações.”. Neste tópico a entrevistada descreve estas três fases demonstrando detalhadamente a importância de cada uma delas. Nas simulações a entrevistada considera que o grupo conseguiu que os “ meninos tivessem um primeiro contacto com o dinheiro e com a realização de trocas (dinheiro por objeto).”. A realização de fichas tornou possível a consolidação dos conteúdos adquiridos. Por fim, a ida ao supermercado, serviu “para ver se a nível prático as crianças tinham percebido como utilizar o dinheiro”, E serviu também para promover a socialização sendo que houve “interação dos próprios miúdos com as pessoas do supermercado.” Ainda relativamente a este tópico foi questionado sobre qual das fases as crianças gostaram mais. A entrevistada referiu ao longo da entrevista que “eles gostaram muito de ir às compras, foi algo fora do comum, diferente daquilo que eles estão habituados.”. No entanto, salientou ainda que, no geral, “todos eles se interessaram por todas as fases do projeto.”, sendo que, “demonstraram-se sempre todos entusiasmados e curiosos para participar”. A entrevistada brincou ainda com a situação das crianças terem recebido um chocolate da parte da gerente do supermercado afirmando que “pronto, se eu cada vez que fosse as compras a senhora da loja me desse um chocolatinho, claro que dava pulos de alegria (risos).” No entanto, a entrevistada acha que não foi só por isso que as crianças gostaram, referindo que achava que “eles gostaram de sair da UEA, de ir à rua e fazer uma coisa que não é hábito. Via-se que estavam motivados.”
Outro ponto abordado ao longo da entrevista foi a Palestra realizada à comunidade escolar, aplicada para a sensibilização do tema – O Autismo, destinada mais diretamente às crianças do ensino regular que têm na turma alunos com NEE. Sobre este ponto, a entrevistada assume que notou diferença por parte de atitudes de alguns alunos, nomeadamente no recreio. Assim sendo, as crianças “do ensino regular [estão] mais preocupados e mais atentos às dificuldades” das crianças inseridas na UEA. A entrevistada assume também que teve algum feedback por parte das professoras do ensino regular, que afirmam ter pais que abordaram com estas o tema da Palestra. Isto é bastante positivo, visto que, a Palestra se tornou abrangente a toda a comunidade escolar cumprindo o seu principal objetivo de promover a sensibilização para a diferença e para a patologia do Autismo. Ainda relativamente a este aspeto a entrevistada evidencia a importância deste tipo de sensibilização, uma vez que, considera fundamental “criar gerações futuras que se preocupem com pequenas coisas.”. A entrevistada remete para a perda de valores presentes na sociedade atual considerando “importante as crianças perceberem a realidade que as rodeia, terem a noção que existem diferenças e que não se pode ou não se deve simplesmente ignorar.” Neste contexto a entrevistada remata ainda, que se devem “criar gerações futuras que se preocupem, que tomem iniciativa, que estejam atentos às dificuldades e diferenças e que não pensem só neles próprios.”.
O impacto do projeto é um outro tópico crucial para perceber se os objetivos propostos foram ou não cumpridos. Um dos principais objetivos do projeto era proporcionar às crianças uma evolução significativa no desenvolvimento de aprendizagens, segundo a entrevistada “este projeto foi de facto uma mais-valia para o desenvolvimento destas crianças, para o enriquecimento cultural das mesmas.”. É neste contexto que a entrevistada refere que “esta intervenção promoveu-lhes [às crianças] ter acesso a informações preciosas quando se trata do dia-a-dia real, nomeadamente, a utilização do dinheiro e a perceção do seu valor.”. Em relação ao impacto do projeto a entrevistada destaca a participação de um dos alunos: “ o Pedro”. Esta criança “é um menino com grande desorientação face ao cumprimento das regras e ansiedade excessiva face a situações novas”, “sofre de défice de atenção” estando constantemente desmotivado para alguma tarefa que surja. No entanto, a entrevistada assume que “eu vi-o sempre motivado e interessado para fazer as atividades convosco.”, situação que a surpreendeu, uma vez que, “este menino, desconcentra-se com tudo o que mexe (risos) e quando ia fazer fichas , quando ia fazer simulações e até mesmo quando foi às compras mostrou uma concentração extrema no que fazia.”. A entrevistada confessa mesmo que “nunca vi[u] o “Pedro” assim. Tão concentrado. Surpreendeu-me mesmo pela positiva, lembro me de falar disto convosco e com a professora Cristina e de também terem achado. Foi mesmo impressionante.”
Outra das coisas que a entrevistada assume como uma boa aprendizagem ao longo deste projeto é promover às crianças situações que as “obriguem” a interagir num contexto real. Neste caso especifico a entrevistada refere-se a coisas simples “no dia-a-dia de uma pessoa, como por exemplo chegar a um supermercado e dizer “bom dia”, “boa tarde”, “obrigado”. São estas pequenas coisas que fazem a diferença e que podem influenciar a visibilidade destes meninos perante a sociedade.”. Sobre esta temática a entrevista aborda ainda que “é crucial integra-los na sociedade, eles não são nenhuns bichos, são seres humanos que apenas precisam de mais tempo para aprender, para assimilar as coisas, mas que com tempo, dedicação e formas adequadas de aprendizagem, se tornam em pessoas muito queridas e muito bem formadas.”
Por fim, questionou-se à entrevistada se os materiais realizados e o projeto desenvolvido se iriam repetir futuramente. Relativamente a este ponto, a entrevistada menciona que o projeto foi muito bem conseguido, sendo por esse motivo que convidou o grupo a ficar pela UEA. A entrevistada desabafa mesmo que “sem vocês não era a mesma coisa [referindo-se ao projeto].”.
Especificamente em relação às fichas realizadas pelo grupo, a entrevistada afirma que “é claramente um material que iremos integrar nos nossos materiais de ensino.”. Esta refere ainda que, as fichas foram muito bem conseguidas, uma vez que, têm em conta as características individuais das crianças o que é muito importante. Futuramente, este material será, segundo a entrevistada, “bastante útil não só com estes meninos como também como suporte para a realização de mais fichas para outras crianças com esta patologia que entrem na UEA.” Como produto final, este material, “apesar de ter dado muito trabalho, muito tempo despendido dentro e fora da Instituição” teve um segundo a entrevistada, um “resultado final de excelente qualidade”.
A entrevistada garante que, na atualidade, e tendo em conta a situação do país, não fácil dar todo o apoio necessário às crianças, tendo conta as suas NEE. No entanto, com a ajuda do grupo e através do projeto desenvolvido a entrevistada afirma que “conseguimos dar qualidade de ensino a estas crianças com toda a dedicação que elas merecem.”. Chegando mesmo a agradecer todo o apoio prestado.