Análise da Entrevista
Ao décimo nono dia do mês de Novembro de dois mil e doze, realizou-se à professora de Educação Especial da Unidade Estruturada de Autismo, inserida na EB1e JI Conquinha, a entrevista que se segue. Esta entrevista decorreu na Unidade, teve início por volta das dez horas da manhã e durou aproximadamente uma hora e cinquenta minutos. Apesar de a entrevistada autorizar a exposição do seu nome, de forma a tornar leitura mais simples, no decorre da exibição dos seguintes resultados, a entrevistada será apresentada segundo tal designação.
Num primeiro momento foram feitos os prévios agradecimentos pela disponibilidade e colaboração, a garantia da confidencialidade, (não sendo necessário garantir o anonimato visto a mesma autorizar a exposição do seu nome), o pedido de autorização para a gravação áudio, de modo a facilitar a recolha e organização de dados, para posterior análise e a referência à disciplina, na qual o trabalho se insere.
Postos estes aspetos, a entrevista, propriamente dita principiou-se pela caracterização do perfil académico e profissional da entrevistada. Assim, sobre estas questões a entrevistada referiu que o seu curso base é educadora do primeiro ciclo, e que posteriormente tirou uma pós-graduação em Educação Especial, no domínio das problemáticas de risco.
De seguida, o grupo quis saber qual é a atual estrutura da Unidade, sendo que percebemos que esta é bastante simples. Assim sendo, a Unidade, é segundo esta professora “constituída pelos recursos físicos, mais especificamente pela sala de ensino estruturado, e pelos recursos humanos, como docentes, assistentes operacionais e técnicos especializados (psicóloga, terapeuta da fala, TSEER)”. Tal como qualquer outra Unidade estruturada de Autismo, a sua estrutura a nível físico é composta pela sala de ensino estruturado delimitada por diversas áreas, nomeadamente: a área do aprender, a área do trabalho individual, a área da reunião/trabalho de grupo, a área do computador, a área do brincar e uma cabine individual de cada aluno. Para além destes espaços existe também um local para que os alunos se acalmem.
Continuando a conversa sobre a Unidade, a questão seguinte visava a opinião da professora sobre as crianças que ensina quanto ao seu nível de interação social. Sobre esta questão a entrevistada referiu que é “Isso é uma pergunta difícil de responder...”, no entanto, reconhece que os alunos “têm feito um percurso positivo desde que vieram para a Unidade” o que é um aspeto francamente positivo tendo em atenção a sua patologia. “…é uma patologia complicada a nível da interação. Interação e comunicação são sem dúvida os maiores problemas destas crianças.”
Ainda em relação às crianças da Unidade o grupo quis também saber se estas têm uma zona de conforto e qual a opinião da professora quanto a afastá-las dessa mesma zona. Assim, a entrevistada referiu que “Têm uma zona de conforto muito própria e precisam de estar nessa zona de conforto quando estão desorganizados.” Porém, afastá-los dessa mesma zona é igualmente necessário, pois só assim é possível conduzi-los para o mundo social. “O nosso objetivo é trazê-los para o nosso mundo, ou seja é conseguir que cada vez mais venham para o nosso espaço (…) retirá-los cada vez mais a fazer cada vez mais coisas fora dessa zona de conforto, onde só precisem ir de vez em quando”.
No entanto, acrescenta que é uma tarefa exigente e que não pode ser conseguida num único gesto, “não podemos exigir logo tudo, temos de ser adaptáveis a cada uma destas crianças, só assim é que vamos conseguir ter algo positivo, e que esperamos da parte deles.”
Seguidamente, o grupo perguntou que tipo de atividades poderiam ser feitas na Unidade, a fim também de perceber que tipo de intervenção deveria realizar, tendo em conta o público-alvo. Assim, foi percetível que as crianças trabalham a dois níveis com as várias atividades, nomeadamente aspetos básicos do dia-a-dia, e parte académica. Sobre o primeiro a entrevistada refere que, o facto de estas crianças não aprendem por imitação tudo lhes tem de ser ensinado, inclusive aspetos bastante primários, como o lavar as mãos “… trabalhar de facto as autonomias, como ensinar a lavar as mãos ou ensinar a ir à casa de banho, a cortar um alimento, andar na rua, de bicicleta (…) ou seja as coisas básicas que todos os miúdos aprendem só de olhar para o outro…estes miúdos não tem essa capacidade.”
Quanto ao segundo, a entrevistada refere que as atividades passam por “ensinar a ler e escrever e fazer contas, as cores. Tudo o que o ser humano possa precisar.” Para finalizar acrescenta ainda que, tanto num nível como num outro a sua tarefa não é fácil, pelo que é preciso “ser muito preexistente e repetir muitas vezes as mesmas coisas” pois só assim é possível que “…eles venham a saber alguma coisa.” Reconhece, também, que as atividades para serem uma mais-valia têm de promover a interação, a comunicação e os comportamentos, sendo que, “essas três áreas têm de estar contempladas.”
Percebido assim, como decorrem as atividades a questão seguinte visava a avaliação das crianças. Sobre esta questão a entrevistada referiu que é mais simples se foi feita para um aluno que já estava na Unidade no ano anterior, do que para um novo aluno, uma vez que, para o primeira passa, essencialmente, por perceber a evolução desta criança, e reformular a avaliação perante as suas novas características. De facto, “se for um miúdo que eu já conheço, um miúdo que já cá esteve, eu vou pegar na avaliação que fiz no final do ano letivo e vou pegar nos itens que eu avaliei e vou ver como é que eles fazem. Há recessões, há coisas que eles aprendem e que ninguém lhes ensinou e eles dão saltos brutais e depois há outras coisas que nos falam, às vezes comportamentos desadequados, que vamos ter de trabalhar… é feita uma avaliação através do que é feito do ano anterior da avaliação final….”
Por outro lado, se for com um aluno novo a tarefa é mais elaborada, pois não existe uma referência. Segundo a própria “ quando é um miúdo novo, demora mais tempo porque primeiro tenho de estudar a parte documental toda, tenho de estudar desde que ele nasceu e ver o seu percurso. Depois faz-se uma avaliação especializada sobre o perfil de funcionalidade.”
As perguntas que o grupo colocou logo de seguida visam uma opinião mais pessoal da professora. Desta feita, foi questionado quais os desafios que sente na sua profissão. Assim, a entrevistada referiu a necessidade de preparar as crianças para se integrarem em sociedade como principal desafio, neste contexto a entrevistada refere: “isto é válido para todos os professores e para todas as crianças, independentemente dos défices que estas podem apresentar, pois de uma maneira ou de outra, com maior ou menor frequência, todos devem ter oportunidade de participar na sociedade.”
Por outro lado, os constrangimentos predem-se com o facto desta professora assistir que muitas das vezes as próprias famílias não cumprem o que prometem ou não fazem o máximo para dar qualidade de vida aos seus educandos.
Ainda dentro deste tema, o grupo perguntou, quais são as principais vantagens da sua atividade profissional, ao que a entrevistada respondeu de seguida, ser modelar os comportamentos dos seus alunos “tornando-os mais assertivos e adequados nas interações sociais; explorar a minha criatividade na procura de estratégias que visem a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de competências.”
Quase a finalizar esta entrevista, a pergunta que se seguiu visava igualmente a opinião pessoal da entrevistada, desta vez, acerca da visão que a sociedade tem da Educação Especial. Sobre este aspeto, não pouca criticas e refere primeiramente que “ainda pensam que são todos uns coitadinhos (…) uns coitadinhos que andam para ali, isto preto no branco.” Acrescenta ainda que os jovens tendem a excluir estes indivíduos isto porque, “quando eles são pequenos, que tudo corre bem. Na adolescência, esses miúdos desaparecem, porque ninguém é amigo de um miúdo que se baba, ou que não fala (…) se calhar, quando passarem essa fase da adolescência, já vão ser capazes de ter um amigo com autismo, mas têm de passar essa fase da parvoeira, das saídas, dos grupinhos, isso faz parte.”
Apesar deste aspeto negativo, a entrevistada é da opinião que sociedade está mais tolerante à diferença e que muito deve a escola inclusiva.
Demonstrou também bastante agrado pela nossa iniciativa salientando o facto de ser “ muito bom ter-vos por cá.”