Enquadramento Teórico

Uma vez que o principal objetivo do nosso trabalho, numa primeira etapa, coincide na caracterização de uma instituição com fins educativos, torna-se fundamental definir algumas teorias e conceitos abordados na componente teórica da unidade curricular.

Como em qualquer trabalho de investigação que implique um trabalho de campo, existem duas formas de aceder ao mesmo. Estas devem ser escolhidas de acordo com a situação com que cada investigador se depara.

 

Podemos então, optar por uma abordagem objetiva, que segundo os autores Bogdan e Biklen, “(…) o investigador explicita os seus interesses e tenta que os sujeitos que vai estudar cooperem consigo.”. A segunda abordagem pela qual o investigador se pode decidir é a dissimulada. Nela, o investigador tem de anular a sua aparência e os seus reais interesses visto que, para levar a cabo a sua investigação, terá de recorrer à mentira. Não obstante, segundo os mesmos autores, a mentira pode levar a uma situação problemática e ofensiva, “a mentira não só traz problemas de consciência, como também pode constituir uma ofensa”.

 

Os autores acima abordados, aconselham os investigadores que possuem pouca experiência, a fazer a sua investigação com base na primeira abordagem referida, na medida em que “se a autorização for devidamente negociada, a investigação não dissimulada proporciona a vantagem de se ficar livre das obrigações de um participante normal e, consequentemente, a liberdade de se entrar e sair quando se quiser.”. ( Bogdan & Biklen, citando Cusick, 1973; McPherson, 1972). Assim, o grupo considerou relevante a existência de cooperação entre os sujeitos da instituição e o trabalho que desenvolvemos ao longo de todo um semestre. Torna-se então essencial que o investigador, (neste caso o grupo), faça a gestão do seu papel. “Passar a ser um investigador qualitativo é como aprender a desempenhar qualquer outro papel na sociedade(…)” (Bogdan & Biklen).

 

No entanto, e para que este enquadramento teórico seja mais percetível ao leitor, torna-se relevante definir o conceito de instituição. Uma instituição é uma organização ou um mecanismo social que controla e é responsável pelo funcionamento da sociedade, organizadas através de regras e normas. Pois, só assim será possível a coordenação das interações entre os sujeitos e as formas organizacionais de cada instituição, para assim se poder satisfazer as necessidades da mesma.

 

Cada instituição tem uma forma de se organizar própria, consoante as suas características. Pode assim afirmar-se que a gestão da instituição depende das suas especificidades, das pessoas que nela trabalham e das relações que desenvolvem entre si, dos valores de uma determinada cultura intrínseca à instituição, dos objetivos, dos conhecimento e recursos, quer materiais, quer humanos, entre muitos outros fatores.

 

Assim sendo, emerge o conceito de organização, que não é mais do que uma coordenação das atividades de um certo número de indivíduos, tendo em vista a realização de um objetivo ou intenção explícita em comum, através de uma divisão de trabalho e funções, de uma hierarquia e de responsabilidade (Adaptado de Edgar Schein) que atuam num determinado contexto ou ambiente.

 

A noção de organização pode também apresentar dois significados distintos, sendo eles unidades e entidades sociais (fábricas, institutos públicos e escolas) e condutas sociais (processos sociais: pressupõe o ato de organizar atividades).

 

A conceção de organização, como entidade social é conscientemente coordenada, visando a prossecução dos objetivos. Como Processo social tem uma coordenação consciente que exige a gestão formal e é integrada por pessoas e grupos de pessoas que interagem entre si.

 

Na maioria das vezes, a estrutura da organização é representada através de um organograma que contém todo o funcionamento estrutural de uma instituição e respetivas funções que são desempenhadas em cada departamento, consoante o seu nível hierárquico. Assim, uma instituição implica inevitavelmente;

  •     Uma Atuação coordenada: para que exista uma organização, não basta que um conjunto de pessoas atuem com vista a atingir um objetivo comum, pois é necessário também que essas pessoas se organizem e que desenvolvam as suas atividades de forma coordenada e controlada para atingir determinados resultados. Esta coordenação e controlo é geralmente efetuada por um líder mas encontram-se muitas vezes organizações em que estas tarefas estão divididas e são efetuadas por todos os membros em conjunto através, por exemplo, de um órgão colegial;
  •    Recursos: representam todos os meios colocados à disposição da organização e necessários à realização das suas atividades. Nestes recursos incluem-se os recursos humanos, os recursos materiais e tecnológicos, os recursos financeiros, a imagem de mercado e credibilidade perante o exterior;
  •   Afetação eficaz: os recursos organizacionais são escassos, sendo assim terá que se arranjar formas de a probabilidade de atingir os objetivos pré-definidos ser a maior possível. É daqui que surge a principal justificação para a necessidade da gestão nas organizações.
  •    Objetivos: representam as metas ou resultados organizacionais pretendidos e a obter no futuro, ou seja, são os propósitos que justificam toda a atividade desenvolvida ou mesmo a própria existência da organização. Todas as organizações devem determinar não apenas os seus objetivos, mas também definir as medidas e formas de atuação e de obtenção de recursos que se pensa serem os mais adequados para os atingir.
  • Contexto: representa toda a envolvente externa da organização que, de forma direta ou indireta, influencia a sua atuação e o seu desempenho. Nesta envolvente externa inclui-se o contexto económico, tecnológico, sócio – cultural, político – legal, e ainda um conjunto de elementos que atuam mais próximo e diretamente com a organização, tais como os clientes, os fornecedores, os concorrentes, as organizações sindicais, a comunicação social, entre outros.

 

 No que concerne à abordagem da decisão organizacional enquanto processo essencial para o sucesso de uma determinada organização é de referir que as tomadas de decisões podem ser encaradas como processos programados e não programados. Será programado sempre que o estímulo iniciador da decisão seja usual e a sua resposta obedeça a um determinado conjunto de ações previamente estabelecidos pela organização em causa. Já a não programada será aquela que, sempre que exista um carácter de novidade no problema encontrado, não existe uma resposta previamente definida.

 

Ora, em qualquer organização, a estrutura interna é algo fulcral para a posterior organização e gestão de recursos. Neste seguimento, alguns autores apresentaram diferentes conceções sobre as possíveis estruturas das organizações. Segundo Ferreira, J. M. et al (1996) existem várias configurações estruturais nas organizações:

 

  •  Estrutura Simples: o seu principal mecanismo de coordenação é a supervisão direta; mais apropriada para as organizações de pequenas dimensões, normalmente o poder de decisão cabe apenas a uma pessoa, sendo ele o director geral ou um patrão individual, tendo ainda um ambiente hostil.
  •  Burocracia Mecanicista: principal mecanismo de coordenação é Estandardização dos processos de trabalho; tem por base uma tecnoestrutura, o poder de decisão é de controlo tecnocrático e externo.
  •  Burocracia Profissional: Estandardização das qualificações; existe um ambiente estável e uma margem de autonomia no centro operacional.
  •  Estrutura Divisionalizada: tem uma linha hierárquica intermédia; estandardização dos resultados; funciona com base num conjunto de entidades quase autónomas; existência de um ambiente simples e estável.
  •  Adhocracia: principal mecanismo de coordenação é o ajustamento mútuo; o comportamento dos indivíduos é pouco formalizado; fluxos de autoridade pouco significativos; o poder de decisão torna-se pouco importante dada a democracia deste tipo de estrutura.

 

Deste modo, torna-se importante que o investigador faça uma gestão, o mais normalmente possível, do desconforto inicial com o “desconhecido”. Este deve evitar dar relevância aos comentários feitos pelos sujeitos, bem como, tentar estabelecer uma relação de confiança com o desconhecido. É também importante que o investigador retire notas e assimile o máximo que conseguir de uma forma passiva, sempre que se desloca à instituição, para assim conseguir recolher um maior número de dados/informação.

 

No decorrer da investigação, é então necessário ter em atenção alguns aspetos cruciais, isto porque os observadores podem desempenhar vários papéis, dos quais se destacam os dois extremos:

  •    Observador completo;
  •   Observador que se envolve com o meio;

 

Para Bogdan & Biklen “É necessário calcular a quantidade correcta de participação e o modo como se deve participar, tendo em mente o estudo que se propôs elaborar.”. Por outro lado, é essencial que o observador se mantenha discreto e tenha cuidado com o vestuário. É importante não corrigir o sujeito mesmo que este possa estar errado, ter cuidado com as notas de campo e, em contextos educativos em conflito, é importante que o investigador se mantenha neutro.

 

No que diz respeito aos sentimentos que o investigador possa ter, este deve ter em conta que aqueles podem e devem ser usados como uma fonte de reflexão, pois poderão ser um importante indicador dos sentimentos do sujeito, no sentido em que podem ser importantes para desenvolver a empatia.

 

O método utilizado no âmbito do trabalho de campo foi a observação directa. Esta pode ser entendida como uma técnica específica com a qual se pretende recolher informação directamente da realidade,  onde os investigadores intervêm nas actividades dos observados, retirando assim informações no final de cada sessão de observação.

 

No entanto, este tipo de observação requer alguns cuidados, para assim não influenciar o normal funcionamento das tarefas realizadas pelos observados.

 

A observação é um método bastante útil em investigação qualitativa, pois permite-nos obter uma imagem bastante aproximada da realidade, e dos elementos que a compõem. Para que assim seja, a observação deverá ter em conta as questões de investigação, os contextos, os objetos e os sujeitos observados, utilizando instrumentos e procedimentos adequados na execução da mesma.

 

Segundo Estrela, citado por Dias e Morais (2004), o processo de observação, quando utilizada no âmbito das ciências sociais e humanas, depara-se com algumas dificuldades que derivam da contingência das diversas variáveis nele intervenientes, nomeadamente, o sujeito observador, o objecto observado, a interacção entre observador e objecto e as situações contextuais. Carmona, citado por Santiago e Lukas (2004), apresenta como principais características da observação o facto de esta ser:

  •   Um procedimento de recolha de informação que se baseia na percepção sensorial do investigador;
  •    Um estudo acerca dos fenómenos que ocorrem natural e espontaneamente;
  •    Um exame de fenómenos actuais.

 

Outra técnica de recolha de dados, muito importante na Investigação Qualitativa, sendo também considerada como um complemento da Observação é a entrevista. Esta caracteriza-se por ser um processo bastante eficaz de encontrar informação, em que, as respostas dos entrevistados revelam as suas perceções, interesses e perspetivas relativamente ao contexto da instituição.

 

As entrevistas podem ser classificadas como estruturadas, entrevistas não-estruturadas ou semi-estruturadas. Neste caso optámos por aplicar a entrevista semi-estruturada, na qual o entrevistador assumiu o ritmo da entrevista, mas não sendo o guião seguido à risca. Demos então a possibilidade de haver uma margem de manobra e de liberdade na entrevistada para que se necessário fossem abordados outros assuntos pertinentes ao nosso estudo. No entanto as entrevistas também representam vantagens e desvantagens. Como vantagens podemos referir a relação interpessoal, a adaptação ao entrevistado, observar o entrevistado a nível gestual e verbal e o registo de grandes quantidades de informação. Sendo as desvantagens a duração, a fiabilidade, a validade da informação e a ausência de anonimato. Também constitui uma desvantagem o facto de não ser possível de completar caso existam lacunas.